Na semana em que a megaoperação “Contenção”, ocorrida no Rio de Janeiro, completa sete dias, o debate sobre a migração das facções criminosas no Brasil ganhou ainda mais força.
A ação terminou com 121 pessoas mortas nos complexos da Penha e do Alemão. Segundo o Governo do Rio de Janeiro, pelo menos 62 criminosos mortos em confronto eram de fora do Estado Fluminense, assim como um terço dos 113 presos.
Um relatório da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) aponta que, hoje, todos os Estados brasileiros têm presença de facções criminosas. O PCC e o Comando Vermelho, que foi alvo da operação do dia 28 de outubro, estão presentes em 25 das 27 unidades federativas.
Durante uma coletiva de imprensa, o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Felipe Curi, disse que as localidades se tornaram “verdadeiros QGs” nacionais do crime organizado no Brasil.
“A investigação e os dados de inteligência comprovam que são nos complexos da Penha e do Alemão que são feitos treinamentos de tiro, táticas de guerrilha, manuseio de armamentos, e ocultação dos marginais que vêm de fora do Estado para serem ‘formados’ aqui e depois retornarem aos seus Estados de origem”, ressaltou.
No litoral norte de São Paulo, o Ministério Público destacou a presença da facção carioca para cidades como Ubatuba e Caraguatatuba, o que acendeu o alerta das autoridades para uma possível disputa entre os dois grupos criminosos (PCC e CV).
O coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP), Roberto Alves, explica que o Comando Vermelho se aproveitou de locais estratégicos que não eram “explorados” pelo PCC.
“Essa região não foi aproveitada, não foi importante para o Primeiro Comando da Capital, e o Comando Vermelho se aproveitou da condição geográfica, na divisa com o Estado do Rio de Janeiro, e pelas condições estratégicas, como morros, áreas desocupadas, o poder público não presente… Eles se valeram disso e estão presentes principalmente nas cidades do litoral norte de São Paulo”, explicou.
O especialista em segurança pública também cita que um dos motivos que contribuiu para o movimento migratório de facções criminosas foi a ADPF das Favelas, que estabeleceu limites para a atuação das forças de segurança durante operações policiais.
E não é só pelo território brasileiro que o crime organizado está se espalhando. Relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apontam a presença dele na chamada “Amazônia Compartilhada”, território que fica na fronteira entre o Brasil e a Colômbia.
Por Luiza Muttoni
