A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sugerindo que o traficante é, na verdade, vítima dos usuários, agitou o noticiário. Segundo o filósofo Luiz Felipe Pondé, colunista da TMC, essa ideia de relativizar a culpa “pegou mal”, mas já é um roteiro conhecido.
O colunista lembrou que sempre paira uma suspeita sobre a esquerda: a de que ela gosta mais dos bandidos do que das suas vítimas.
“É mais ou menos assim: o bandido sequestra você, assalta você, pode bater em você, quem sabe, até atirar em você, quem sabe, estuprar você, e você pode tropeçar em alguém da esquerda ou, de repente, em alguém que é meio artista, que também é de esquerda, e essa pessoa dizer para você que, na realidade, o bandido é quem é a vítima. O impressionante é como alguém, um adulto, pode acreditar num absurdo desse”, disse Pondé.
Essa distorção tem raízes intelectuais que tentam justificar o erro. Segundo Pondé, de Marx a Foucault, a ideologia pode levar à ideia de que criminosos comuns e presos políticos são a mesma coisa. Se o ladrão e o assassino cometem um ato político “contra o regime opressivo”, então eles teriam alguma razão em ser bandidos.
Mas a população comum, aquela que de fato morre na rua, é assaltada e estuprada, não tem essa mesma ideia. Segundo Pondé, o povo tende a achar que “bandido é bandido e vítima é vítima”. O presidente, ao se enrolar nessa história, apenas confirma que o PT e sua patotinha têm essa paixão, avaliou o filósofo.
Para o filósofo, a esquerda precisa, portanto, sair do seu “trono” e parar de requentar esse discurso. Segundo Pondé, ela não entende nada de “gente real”. Isso acontece porque seus membros são, majoritariamente, gente de universidade, sindicalistas ou “filho de papai rico que resolve mudar o mundo”.
