A CENA ATUAL DO HORROR
Mais um filme de boneca amaldiçoada. E qual o problema? Nenhum. “Dollhouse” não tem vergonha nenhuma em ser clichê.
O mundo do terror enfrenta uma crise de identidade. São anos tentando se enquadrar nas exigências de quem sempre tratou o gênero com desdém. Do dia para a noite, passou a ser necessário que a personagem tenha um motivo aparente para descer as escadas da casa nitidamente mal assombrada, às três da madrugada, para checar um barulho na cozinha.
Essa busca pela reinvenção do terror nos trouxe ótimos suspenses psicológicos modernos que conseguiram dar ao público que nunca gostou de ‘jumpscares’, perseguições, ‘slashers’ e afins o que eles queriam: explicações para o inexplicável. Mas também acabou trazendo diversas obras que acabaram sendo o que tanto tentaram combater, ou seja mais do mesmo.
A TRAMA DO FILME

O filme conta a história de Kae Suzuki (Masami Nagasawa), uma mãe que entra em um luto profundo após perder sua filha, Mei, de 5 anos, em um acidente doméstico. Kae só consegue seguir em frente quando apoia sua dor em uma boneca realista e começa a tratá-la como se fosse uma criança.
Seu marido, Tadahiko Suzuki (Koji Seto), a princípio resiste à ideia, mas logo passa a aceitá-la após ver sua esposa finalmente se recuperando do luto. Os problemas começam quando Kae dá a luz a uma nova criança e começa a deixar a boneca de lado. A partir deste momento, o filme coloca o foco em cima da boneca e a história bizarra por trás de sua existência.
De maneira bastante satisfatória, o longa consegue tratar da morte da criança, do luto da mãe, da introdução da boneca e da chegada da nova criança em pouco tempo, de maneira completa e sem enrolação. Ao mesmo tempo, sem que o espectador sinta falta de algo.
Confira o trailer oficial do filme:
Como nos velhos tempos, o filme não perde tempo em transformar o extraordinário em algo crível e logo nos apresenta a um clima de tensão constante. As decisões das personagens são totalmente questionáveis, como nas várias vezes em que a criança é deixada a sós com a boneca.
Depois de começar com um drama pesado e caminhar sob a tensão, a obra insere Kanda (Tetsushi Tanaka). Um especialista que se dispõe a resolver os problemas e não resolve absolutamente nada, mas cumpre o papel de desarmar a audiência para que novas cenas aterrorizantes se desenvolvam. Além disso, a personagem leva o casal principal até o desfecho da trama, que guarda um ‘plot twist’ digno do filme que “Dollhouse” pretende ser.
No fim, clichês não são clichês por acaso. Se bem utilizados, têm o poder de realizar com firmeza e clareza o que se pretende. “Dollhouse” é um grande exemplo disso. Uma mistura, no tom certo, da utilização das técnicas que estamos mais do que acostumados, com a pitada, na medida certa, do que o “novo terror” tem de melhor.
“Dollhouse” é distribuído pela Sato Company e estreia nos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira (06/11).
FICHA TÉCNICA
Direção: Shinobu Yaguchi
Roteiro e História Original: Shinobu Yaguchi
Elenco: Masami Nagasawa, Koji Seto, Tetsushi, Tanaka, Aoi Ikemura, Totoka Honda, Ken Yasuda, Jun Fubuki
Música: Yaffle
Tema Musical: “Katachi” – Zutomayo (Universal Music)
Produção: Toho, Toho Studio, Django Film
Distribuição: SATO COMPANY
Duração: 110 minutos
Idioma: Japonês (Legendado)
País: Japão
Por Lucca M. Malinverni
