Há exatos 80 anos, o Estado Novo, ditadura implantada por Getúlio Vargas em 1937, chegava ao fim. A derrocada do regime foi influenciada diretamente pela Segunda Guerra Mundial, que expôs as contradições de um governo com simpatias ao nazifascismo em um país que lutava contra o Eixo liderado por Hitler e Mussolini.
O Rio de Janeiro na linha de frente da História
Quem mergulha nesse período é o escritor e acadêmico Ruy Castro, que acaba de lançar o livro Trincheira Tropical (Companhia das Letras). A obra revela o papel da então capital federal — o Rio de Janeiro, “única metrópole do país, centro diplomático, militar e da imprensa”, como define o autor — no cotidiano da guerra e nas transformações que ela provocou no Brasil.
“O Rio era o epicentro de tudo: diplomatas, espiões, refugiados europeus, jornalistas. Não havia um livro sobre isso. Tudo o que aconteceu ali influenciou o dia a dia da cidade”, explica Rui.
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Do front europeu às ruas do Rio
A guerra começou em 1939, com a ascensão da extrema-direita e o avanço do nacionalismo no mundo. No Brasil, o marco da queda do Estado Novo foi 29 de outubro de 1945, quando o regime autoritário foi derrubado e a transição para a democracia começou. A vitória dos Aliados, com participação das tropas brasileiras, provocou uma euforia coletiva — desfiles, multidões e celebrações pelas avenidas do centro carioca.
Heróis esquecidos e o peso do abandono
Mas, como mostra o autor, o entusiasmo logo se transformou em frustração. “Eles foram celebrados pelo povo, mas depois abandonados pelo governo. Getúlio, o ditador, e Dutra, então ministro da Guerra, os dispensaram sem cumprir as promessas de emprego”, lamenta Castro.
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O papel dos estudantes e a queda da ditadura
O livro destaca ainda o protagonismo da UNE, fundada pouco antes do conflito. Os estudantes foram essenciais nas passeatas pela entrada do Brasil na guerra — manifestações que, proibidas durante o Estado Novo, tornaram-se símbolo de resistência civil e prelúdio do fim da ditadura.
Rui Castro, imortal da Academia Brasileira de Letras, ocupa a cadeira 13 e acaba de conquistar o Prêmio Jabuti de Livro do Ano com Ouvidor do Brasil, 99 vezes Tom Jobim. Agora, com Trincheira Tropical, ele revisita um dos períodos mais intensos da história brasileira — quando o país saiu de uma ditadura para o sonho da democracia.
