O Brasil inicia nesta segunda-feira (03/11) três semanas de eventos ligados à cúpula climática COP30, na esperança de mostrar um mundo ainda determinado a enfrentar o aquecimento global, mas isso pode ser difícil em um ano marcado por turbulências econômicas e compromissos cancelados dos Estados Unidos.
Os líderes empresariais reunidos em São Paulo estão pressionando por políticas mais fortes para financiar a transição energética, com uma carta aberta nesta segunda-feira pedindo aos governos incentivos “urgentes” para a adoção de energia renovável em vez de combustíveis fósseis.
“É um reconhecimento dos grupos empresariais da importância do multilateralismo e da importância de aumentar a ambição”, disse a presidente-executiva Maria Mendiluce, da We Mean Business Coalition, que coordenou a carta de 35 grupos que representam 100.000 empresas.
No Rio de Janeiro, nesta segunda-feira, prefeitos, governadores e outros líderes subnacionais participarão de uma cúpula de líderes locais, que ameaça ser ofuscada por protestos contra uma megaoperação policial na semana passada que deixou 121 mortos.
Separadamente, o príncipe William, do Reino Unido, presidirá uma cerimônia no Rio para o Prêmio Earthshot, que reconhece as contribuições ao ambientalismo no ano passado.
Entretanto, os países e as empresas podem ter dificuldades para projetar o mesmo otimismo que marcou a diplomacia climática nos últimos anos.
Atualmente, a cooperação global está estagnada em meio a tensões geopolíticas e várias guerras. Uma série errática de tarifas dos EUA abalou a estabilidade econômica em todo o mundo, enquanto as reviravoltas dos Estados Unidos em relação à política de energia limpa e à ciência climática abalaram os investidores. E, embora os custos da energia renovável tenham caído para níveis inferiores aos dos combustíveis fósseis, muitos países estão fazendo malabarismos com metas concorrentes, como a segurança alimentar ou o desenvolvimento de inteligência artificial.
Os líderes empresariais ainda esperam impulsionar as políticas de energia limpa como uma prioridade. “Isso faz muito sentido para os negócios e garante a segurança energética e a competitividade”, disse Gonzalo Sáenz de Miera, presidente do Grupo de Crescimento Verde da Espanha.
Cúpula das Florestas Tropicais
O fato de o Brasil ser o anfitrião deste ano marca 33 anos desde a Cúpula da Terra no Rio, onde os países assinaram pela primeira vez o tratado das Nações Unidas que se compromete a combater as mudanças climáticas.
Desde então, a cúpula se transformou em um importante fórum multilateral, reunindo países ricos e pobres, cientistas e a sociedade civil para enfrentar a ameaça climática. Mas, até o momento, ela não conseguiu interromper o aumento das emissões de carbono, embora o ritmo tenha diminuído. Cerca de 40% das emissões da era industrial na atmosfera foram liberadas desde que o tratado foi assinado.
Ao participar da cúpula anual, os líderes geralmente têm como objetivo confirmar o compromisso de seus países e responsabilizar uns aos outros. Mas é provável que a COP30 tenha a menor participação de líderes mundiais desde 2019, quando cerca de 50 chefes de Estado foram a Madri para a COP25.
Para a cúpula de líderes de 6 e 7 de novembro na cidade amazônica de Belém, “menos de 60” líderes haviam confirmado com a presidência brasileira até sábado. Mais de 80 participaram da COP29 do ano passado em Baku, depois de mais de 100 nas três cúpulas anteriores em Dubai, Sharm el-Sheikh, Egito, e Glasgow.
A principal cúpula de 10 a 21 de novembro em Belém também teve menos pessoas registradas do que nas COPs do passado recente. Com a capacidade limitada dos hotéis e os altos preços dos quartos em Belém, apenas cerca de 12.200 pessoas haviam se registrado até 8 de outubro, de acordo com dados preliminares da agência climática da ONU.
A COP29 do ano passado em Baku teve mais de 54.000 participantes, enquanto a COP28 de Dubai atraiu quase 84.000. O Brasil havia dito que esperava mais de 45.000.
O planejamento da COP30 causou meses de ansiedade entre os países que tiveram dificuldades para encontrar acomodações a preços acessíveis, e alguns acabaram planejando reduzir suas delegações.
Isso também levou mais pessoas aos eventos com foco em finanças nesta semana em São Paulo ou à cúpula de líderes locais no Rio.
“É ótimo ver tantos líderes empresariais e prefeitos convergirem para o Brasil às vésperas da COP30, apresentando suas ações climáticas e buscando oportunidades de colaborar e ir mais longe mais rapidamente”, disse Dan Ioschpe, presidente do conselho da Ioschpe-Maxion, fabricante de autopeças sediada no Brasil, que está liderando os esforços da COP30 para acelerar a ação de empresas e outros atores não estatais.
O Brasil disse que a localização de Belém tinha o objetivo de agitar as coisas, colocando as comunidades indígenas no centro das negociações.
Uma flotilha com líderes e ativistas indígenas está descendo o rio Amazonas até Belém, onde os grupos planejam entregar uma lista de exigências de conservação aos líderes mundiais no final desta semana. Durante a conferência, muitos grupos indígenas planejam acampar na floresta tropical ao redor da cidade.
Por Reuters
