O ex-presidente da França Nicolas Sarkozy chegou nesta segunda-feira (20) à prisão de La Santé, em Paris, para começar a cumprir uma pena de cinco anos por conspiração criminosa no suposto financiamento de sua campanha eleitoral de 2007 com recursos da Líbia.
Sarkozy, de 70 anos, tornou-se o primeiro ex-líder da França moderna a ser preso. Ao chegar ao presídio, declarou a jornalistas que “um homem inocente está sendo preso”.
O julgamento ocorreu no fim de setembro.
O tribunal de Paris considerou que ex-ministros de seu governo, Claude Guéant e Brice Hortefeux, conspiraram para buscar apoio financeiro junto ao regime líbio de Muammar Gaddafi para a campanha de Sarkozy.
Embora o tribunal tenha afirmado não haver prova direta de que o ex-presidente tenha recebido dinheiro da Líbia, concluiu que ele permitiu e incentivou os contatos com autoridades líbias para tentar obter recursos ilegais.
Sarkozy recorreu da sentença e contesta também a decisão de cumprir pena enquanto aguarda julgamento do recurso, algo raro em casos de ex-chefes de Estado.
Segundo sua defesa, Sarkozy será mantido em confinamento solitário, separado dos demais presos por motivos de segurança.
O advogado Christophe Ingrain disse à emissora BFM TV que a prisão “fortalece sua determinação e sua raiva de provar que é inocente”.
Ele também afirmou que o ex-presidente pretende escrever um livro sobre sua experiência na prisão.
Entenda o caso
Sarkozy é acusado de ter recebido dinheiro ilegal do regime líbio de Muammar Gaddafi para financiar sua campanha presidencial de 2007, quando foi eleito presidente da França.
A investigação, aberta em 2013, envolve um suposto esquema de corrupção internacional, lavagem de dinheiro e financiamento ilegal de campanha, o que é proibido pela lei eleitoral francesa.
Como teria funcionado o esquema
Segundo os promotores franceses:
- Aliados de Sarkozy (como seus ex-ministros Claude Guéant e Brice Hortefeux) teriam intermediado contatos com autoridades da Líbia em 2006 e 2007.
- O objetivo seria obter milhões de euros em dinheiro vivo para financiar, de forma clandestina, a campanha eleitoral.
- Parte dos valores teria sido transferida por malas diplomáticas ou por meio de empresas de fachada.
As investigações se baseiam em:
- Depoimentos de ex-oficiais líbios, inclusive do filho de Gaddafi, Saif al-Islam Gaddafi, que disse que o financiamento existiu;
- Documentos e anotações encontrados na Líbia após a queda do regime;
- Depósitos e movimentações financeiras consideradas suspeitas.
Sarkozy nega todas as acusações, afirmando que:
- Nunca recebeu dinheiro da Líbia;
- As provas apresentadas são “falsas” ou “fabricadas politicamente”;
- O processo é uma vingança política por ter liderado a intervenção militar da França na Líbia em 2011, que ajudou a derrubar Gaddafi.