Às 8h deste domingo (26/10), a Argentina começou um dos dias mais tensos de seu recente passado político. A eleição legislativa, que renova metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, virou um plebiscito sobre o governo Javier Milei — e, de quebra, um teste de até onde vai a “aliança de ferro” com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Urnas abertas, nervos à flor da pele
Com 36 milhões de eleitores habilitados, o país estreou a Cédula Única de Papel para reduzir custos. Mas o clima nas ruas é de apreensão. Milei, que não tem maioria no Congresso, tenta garantir pelo menos um terço das cadeiras para manter seus vetos e avançar com reformas econômicas — enquanto enfrenta denúncias de corrupção, queda na popularidade e o cansaço da população com o ajuste fiscal.
O presidente vem se apresentando como o homem que “salvou o país da hiperinflação”, lembrando que a taxa mensal caiu de 25% em dezembro de 2023 para cerca de 2% hoje. Mas a conta pesa: o poder de compra despencou, e 14,5 milhões de argentinos ainda vivem na pobreza.
Trump no tabuleiro
O fator externo também esquenta o pleito. Desde que se aproximaram, Milei e Trump vêm trocando elogios — e dólares. O republicano abriu um swap de US$ 20 bilhões e acenou com novos investimentos, mas deixou claro: a ajuda depende do sucesso do libertário nas urnas. “Se ele não ganhar, vamos embora”, avisou na Casa Branca.
A jogada é vista como tentativa de conter a influência chinesa no Cone Sul e manter a Argentina sob a esfera de Washington. Ainda assim, o risco é alto: dentro dos EUA, democratas e até parte dos aliados de Trump criticam o “cheque em branco” ao parceiro argentino.
Corrupção e rachaduras internas
O discurso anticorrupção de Milei também perdeu força. Sua irmã e chefe de gabinete, Karina Milei, foi citada em áudios sobre propina em um órgão público. Um candidato a deputado renunciou após ligações com um empresário investigado por narcotráfico. Tudo isso somado a uma derrota recente na província de Buenos Aires, onde o peronismo venceu com folga.
O que está em jogo
Se conseguir ampliar a base, Milei reforça a agenda de reformas trabalhistas, tributárias e previdenciárias. Se fracassar, o Congresso travará o governo, o mercado voltará a reagir e o segundo biênio do libertário pode se transformar em um pesadelo econômico e político.
Enquanto isso, a oposição peronista tenta se reorganizar entre nomes como Axel Kicillof, Sergio Massa e a ainda influente Cristina Kirchner — todos de olho em 2027.
